Fé, Educação e Saúde para uma vida melhor.
A OXFAM do Brasil – Organização Não Governamental brasileira e membro de uma confederação que atua em 93 países, visando a transformação social com base nos Direitos Humanos e no desenvolvimento igualitário-apresentou, em inícios de abril, os resultados da segunda pesquisa de opinião, realizada em conjunto com o Instituto Datafolha, acerca das percepções sobre as desigualdades no Brasil.
Entre os diversos aspectos abordados na pesquisa (realizada por meio de entrevista pessoal de 2.086 pessoas em 130 municípios do país) um deles me chamou a atenção: o que tratou da “Fé, Educação e Saúde para uma vida melhor”. Sob esse aspecto identificou-se que, a partir dos dados coletados, 58% dos respondentes “duvidam que o trabalho equaliza chances dos mais pobres” e, ainda, que 51% dos entrevistados “não creem que a educação das crianças pobres equaliza suas chances de uma vida bem-sucedida”. No limite, isso nos informa do grande nível de desesperança em nossos gestores, já que de les dependem a implementação de políticas que visem, entre outras demandas, a diminuição da desigualdade social pela via de ações voltadas aos direitos sociais da população
Em minha pesquisa de Pós-Doutorado com jovens de três distintos países, a análise dos dados contemplou, entre outros aspectos, a dificuldade sobre humana dos jovens da periferia de Goiânia no enfrentamento cotidiano dos obstáculos vividos entre as demandas do trabalho e da escolarização. Assim, constatei que nossos jovens não são estudantes que trabalham. Antes, são trabalhadores que estudam, já que, em havendo necessidade de “escolha”, é sempre a educação formal que fica relegada a segundo plano Fato compreensível, já que a sobrevivência é um imperativo.
Retomando à pesquisa inicial, me pergunto: -Se a Educação é um campo que carece do resgate de condições de mínimas efetividades, sob qual lógica operaram os secretários da pasta em todo o país, nessa última década? Algumas experiências exitosas em alguns estados, contrastam com o descompromisso e o desinteresse pela coisa pública de tantos outros. Há que se pensar que, se os resultados” em educação são frutos de um processo e não podem ser “criados” da noite para o dia, há que se buscar as causas daquilo que denominam “fracasso escolar” Como docente universitária (de uma instituição que agoniza), também me pergunto onde erramos. E entre tantos aspectos, penso que talvez um grande erro seja o da inércia. Ao desejarmos que a resposta surja em um passe de mágica, muitos de nós esperamos que a situação se resolva por si só. Eximindo-nos de uma atuação mais efetiva e comprometida, negligenciamos o chamado de muitos de nossos pares para engrossar a luta por respeito e por melhorias nas condições de infraestrutura, trabalho, qualificação, e tantos outros fatores que se somam quando pensamos a Educação como um pilar social
Uma das boas notícias é que, apesar das mazelas, dois em cada três brasileiros elegem a “fé religiosa”, “estudar” e “ter acesso à saúde” como as três principais prioridades para uma vida melhor. Esses dados nos informam que a Educação e a Saúde, como Direitos Sociais, estão na ordem do dia e merecem um lugar privilegiado nas agendas governamentais. Para os bons gestores, esse é um alerta que não pode ser ignorado.
Quanto à Fé Religiosa, na condição de Espírita, me animo quando penso que a dimensão da religiosidade, relegada à condição de subalternidade pelas ciências em geral, seja reconhecida como importante fator gerador de uma vida digna. Diante de desafios cotidianos de todas as ordens, a fé em um Ser Supremo que nos protege e nos guarda é um bálsamo. Mas importante se faz pensarmos na necessidade de sustentarmos uma fé ativa como uma semente que germina por meio do trabalho incessante. Fiquemos, assim, com as palavras de Emmanuel, em obra psicografada por nosso benemérito Chico Xavier: “Guardar, pois, o êxtase religioso no coração, sem qualquer atividade nas obras de desenvolvimento da sabedoria e do amor, consubstanciados no serviço da caridade e da educação, será conservar na terra viva do sentimento um ídolo morto, sepultado entre as flores inúteis das promessas brilhantes” (Fonte Viva, p.94).
(Rosane Castilho é Docente Titular de Psicologia da UEG, Doutora em Educação e membro da Academia Espírita de Letras de Goiás)