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Novos desafios da vida familiar

“Eu não o conheci.

Meu filho foi embora e eu não o conheci. Acostumei-me com ele em casa e me esqueci de conhecê-lo.

Lembro-me que um dia, na sala, ele me puxou a barra do paletó e me fez examinar seu pequeno dedo machucado. Foi um exame rápido.

Uma outra vez me pediu que lhe consertasse um brinquedo velho. Eu estava com pressa e não consertei. Mas lhe comprei um brinquedo novo. Na noite seguinte, quando entrei em casa, ele estava deitado no tapete, dormindo e abraçado ao brinquedo velho.

Uma noite ele me chamou e disse: – Fica comigo. Só um pouquinho, pai. Eu não podia; mas a babá ficou com ele.

Sou um homem muito ocupado. Mas meu filho foi embora. Foi embora e eu não o conheci.” (conto de Oswaldo França Júnior, retirado do livro As laranjas iguais).

Amigos leitores, esse conto reflete o contexto de muitas famílias atuais.

Na realidade, quando o analisamos melhor, remete-nos a questões complexas, conduzindo-nos a pensar sobre o primeiro grande desafio da família atual: o da Convivência.

Lembrando que CONVIVER é muito diferente de VIVER em família.

Segundo Emmanuel, ECX., em Vida e Sexo: “A família é o mais importante instituto social da Terra, do ponto de vista dos alicerces morais que regem a vida.”

Ela deve ser compreendida em sua diversidade sócio-econômica-cultural espiritual, bem como em suas diferentes configurações atuais.

Muitas pessoas vivem sob o mesmo teto, cultivando mágoas, isolamento e falta de diálogo e mal conseguem tolerar-se, esquecendo que a família é a primeira escola e o grande teste para combater-se o orgulho e o egoísmo. Entretanto, ela tem que ser vista como um todo, crianças, jovens, adultos e idosos integrados.

Outro aspecto contemporâneo que devemos refletir é sobre as novas tecnologias (celular, tablet, etc), que são ótimas ferramentas, porém, infelizmente, têm ocasionado muitos efeitos colaterais, sobretudo o isolamento no lar, na escola e na sociedade em geral, causando até doenças sérias, como todos sabemos.

Quando se espera um bebê, os pais começam a imaginar: Como será o seu rostinho? Vai parecer com quem? E o seu futuro?

Todos esses questionamentos são muito saudáveis, porém, nunca devem esquecer de se perguntar: estamos preparados para educá-lo?

Este é outro grande desafio da família atual: A educação dos filhos.

A educação é a arte de formar caráter. Assim, a criança e o jovem têm que ser amparados em todos os aspectos, necessitando ser conduzidos nos métodos psicopedagógicos da atualidade, ampliados com a compreensão espiritual.

Muitos pais questionam quando têm dificuldade com os filhos: onde foi que errei, se dei a mesma educação a todos?

O erro está aí. Cada espírito exige um tipo de educação, mas os pais não percebem isto.

Outro engano é quando os pais criam os filhos como se não fossem conviver coma sociedade. Façamos a seguinte pergunta: estou educando para mim ou para a vida?

O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo XIV, Item 9, diz:

“Lembrai-vos que a cada pai e a cada mãe Deus perguntará:

– Que fizeste do filho confiado a vossa guarda?”

Queremos lembrar, mais uma vez, que em cada momento, nas coisas mais simples, surge a oportunidade de manter uma boa convivência, através da prática do perdão, da compreensão, e, sobretudo, com muito amor, para o fortalecimento dos Laços Familiares.

Quando seu filho pedir fique comigo só mais um pouquinho, é a oportunidade de oferecer-lhe uma atenção de qualidade, mesmo que seja breve. Converse com ele, diga que o ama.

Para ele, uma olhada em seu pequeno machucado éum gesto de atenção e carinho. Seu filho está apenas querendo dizer, preste atenção em mim, eu preciso de você.

Ele também não quer um brinquedo novo, ele quer apenas um pouco de sua companhia.

Somos todos muito ocupados, mas podemos organizar nosso tempo, repensar nossas prioridades, para que no futuro, quando seu filho for adulto, formar sua família e não estiver com você, estes laços já estarão muito consolidados e com certeza poderá dizer: Eu o conheci. Nós nos amamos!



(Marly Arruda Camargo. Espírita, palestrante do Grupo de Edificação Espírita(GEE), membro ocupante da cadeira no 16 da Academia Espírita de Letras do Estado de Goiás (ACELEG) e médica pediatra. E-mail: y.arruda@terra.com.br)

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