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O FILME DE UMA INTELIGÊNCIA SINGULAR

GISMAIR MARTINS TEIXEIRA

 
No último dia 10 de julho, a Universidade Federal de Pernambuco concedeu o título de Doutor Honoris Causa ao médium espírita baiano, Divaldo Pereira Franco, pelo expressivo conjunto de seus pouco mais de trezentos livros psicografados, muitos dos quais traduzidos para diversas línguas. O título honorífico concedido a Franco se soma a outros congêneres, como o de Doutor Honoris causa em Humanidades, pela Universidade de Montreal, Canadá; Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal da Bahia e Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Piauí.
 
Em entrevista acerca da honraria concedida pela universidade pernambucana, que teve como um dos motivos fundamentais, além da vasta produção bibliográfica, o seu extenso trabalho em torno de realizações socioeducacionais e humanitárias no amparo a pessoas marginalizadas na cidade de Salvador, Bahia, Divaldo Franco observou que a sua produção literária apresenta um caráter peculiar, pois se trata do fenômeno espírita denominado psicografia, caracterizado pela atuação de espíritos que se serviriam de aptidões psicomotoras do médium para escreverem a partir de uma realidade espiritual transcendente, que já foi muitas vezes tema do imaginário cinematográfico.
 
A performance cultural mediúnica de Divaldo Pereira Franco não se destaca somente no fenômeno psicográfico da escrita. Dono de uma oratória clássica singularmente expressiva   que, segundo apontamentos biográficos em torno de sua trajetória, é também utilizada pelos espíritos através do fenômeno denominado psicofonia (quando um espírito falaria através do aparelho vocal de um médium dotado dessa faculdade), já realizou pouco mais de 15 mil conferências em 64 países, sendo dez delas na sede da Organização das Nações Unidas, em fóruns sobre espiritualidade, filantropia e humanidades.
 
Conforme as palavras da jornalista Ana Landi, biógrafa de Divaldo Franco, tudo em torno de sua trajetória ganha dimensões superlativas. Se a performance cultural mediúnica de Franco guarda instigantes correspondências com o imaginário do cinema, que já retratou o mundo espiritual em significativo número de produções mundo afora, nada mais natural que o médium de 92 anos de idade chegasse às telonas através de uma cinebiografia que dimensionasse o porquê de seu reconhecimento e prestígio no Brasil e no exterior.
 
É exatamente o que acabar de ocorrer, com a estreia nos cinemas brasileiros do filme “Divaldo – O Mensageiro da Paz”. Produzido por Raul Doria, Sidney Girão, Marina Moretti e Luciane Toffoli, o filme tem a direção e o roteiro assinados por Clovis Mello, que se inspirou na biografia “Divaldo Franco: A Trajetória de Um Dos Maiores Médiuns de Todos Os Tempos”, da jornalista e historiadora Ana Landi.
 
O filme tem a distribuição da Fox Filme Brasil e traz no elenco nomes como João Bravo, Guilherme Lobo e Bruno Garcia, que vivem o médium em três fases distintas, além de Regiane Alves, que interpreta a mentora espiritual de Franco, Joanna de Ângelis. “Divaldo – O Mensageiro da Paz” busca reproduzir facetas importantes da personalidade do médium espírita, que tem de forma cavalheiresca transferido as homenagens recebidas à doutrina de que se fez mensageiro no Brasil e no exterior.
 
MEDIUNIDADE E INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS
As pesquisas em torno do fenômeno da inteligência têm se desenvolvido nas últimas décadas de forma acentuada. A partir do questionamento acerca das antigas mensurações em torno do quociente de inteligência (QI) das proposições do início do século 20, estudiosos como o psicólogo norte-americano, Howard Gardner, sistematicamente vêm propondo a ampliação das conceituações em torno das habilidades cognitivas do ser humano.
 
Conforme Gardner, a modalidade de inteligência que no imaginário popular ainda predomina, a do cientista de cabeleira desgrenhada e memória matemática prodigiosa, representa apenas uma das possibilidades da inteligência humana. Assim, o pesquisador de Harvard lança a proposição na década de 1980 das inteligências múltiplas, dividindo-as basicamente em inteligência de lógica matemática, inteligência linguística, inteligência musical, inteligência espacial, inteligência corporal-cinestésica, inteligência intrapessoal,  inteligência interpessoal e inteligência naturalista. Nomes como Isaac Newton, Ferdinand de Saussure, Mozart, Oscar Niemeyer, Pelé, Sócrates, Gandhi e Darwin seriam bons exemplos de grandes gênios nas modalidades de inteligência respectivamente mencionadas.
 
Todavia, Howard Gardner menciona, no conjunto de seu trabalho, que poderiam haver outras modalidades de inteligência, classificáveis de acordo com pesquisas a serem amplamente desenvolvidas. A biografia de Divaldo Pereira Franco, e agora a sua cinebiografia, sugerem uma instigante possibilidade de pesquisas no campo da psicologia que estuda a inteligência humana. Conforme os postulados de Gardner, e a vida de Divaldo Franco, seria possível a inferência em torno de uma inteligência que se poderia denominar de “mediúnica”.
 
Alguém que a exemplo de Divaldo Pereira Franco e Francisco Cândido Xavier produz centenas de obras nos mais diversos estilos e complexidades conteudísticas, e em condições psicomotoras anômalas, o que não quer dizer patológicas, mereceria o olhar atento dos especialistas em inteligência. Enquanto esse olhar não vem, a arte – no caso, a cinematográfica – vai desempenhando o seu papel de antecipadora de realidades futuras.

*Gismair Martins Teixeira é doutor em Letras e Linguística pela Faculdade de Letras da Universidade Federal de Goiás; pesquisador do Grupo de Pesquisas em Comunicação e Religiosidade da Universidade Federal de Goiás.

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