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Jesus perante Pilatos: a condenação

(Emídio Silva Falcão Brasileiro é cientista da Religião, educador, jurista, palestrante e autor de várias obras. Autor de O Livro dos Evangelhos, da Editora Boa Nova. É membro da Academia Espírita de Letras do Estado de Goiás, da Academia de Letras de Goiânia e da Academia de Letras de Aparecida de Goiânia.)

 

 

Jesus perante Pilatos: a condenação

 

PARECER DE PILATOS

Pilatos saiu de novo para fora e lhes disse: “Vede: eu vo-lo trago, para que saibais que não encontro nele nenhum anime”

Jesus saiu, trazendo a coroa de espinhos e o manto de púrpura. E Pilatos lhes disse: “Eis o homem!”

Quando o viram, os principais sacerdotes e os guardas gritaram, dizendo: “Crucifica-o! Crucifica-o!”

Disse-lhes Pilatos: “Tomai-o vós e crucificai-o, porque eu não encontro nele crime algum”.

Os judeus responderam-lhe: “Nós temos uma Lei e, segundo a Lei, ele deve morrer, porque se fez Filho de Deus”.

Quando Pilatos ouviu essa palavra, ficou mais atemorizado. Entrou novamente no Pretório e disse a Jesus:

“De onde és tu?” Mas Jesus não lhe deu resposta.

Disse-lhe, então, Pilatos: “Tu não me respondes? Não sabes que tenho poder para te soltar e poder para te crucificar?”

Respondeu-lhe Jesus: “Nenhum poder terias sobre mim, se não te fosse dado do Alto; por isso, quem me entregou a ti tem maior pecado”.

Daí em diante, Pilatos procurava soltá-lo. Mas os judeus gritavam, dizendo: “Se o soltas, não és amigo de César! Todo aquele que se faz rei se declara contra César!”

Então Pilatos, ouvindo tais palavras, trouxe Jesus para fora e o fez sentar-se no tribunal, no lugar chamado Pavimento, em hebraico Gábata.

Era dia de preparação da Páscoa, e quase à hora sexta. E disse Pilatos aos judeus: “Eis o vosso rei!”

Mas eles gritavam: “Tira, tira, crucifica-o!”

Disse-lhes Pilatos: “Hei de crucificar o vosso rei?”

Os principais sacerdotes responderam: “Não temos rei senão César”. (Evangelho de João, cap. 19, w.4a 15).

PILATOS LAVA AS MÃOS

Vendo Pilatos que nada conseguia e o tumulto aumentava cada vez mais, mandou vir água e lavou as mãos diante do povo, dizendo: “Estou inocente do sangue deste justo. Fique o caso convosco”.

E todo o povo respondeu, dizendo: “O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos”.

Pilatos, então, querendo satisfazer ao povo, decidiu atender-lhes o pedido. Soltou-lhes Barrabás que eles reclamavam e que fora lançado na prisão por motim e homicídio. Quanto a Jesus, depois de tê-lo feito flagelar, entregou-o à vontade deles, para que fosse crucificado. (Evangelhos de: Mateus, cap. 27, w. 24 a 26-Marcos, cap. 15, v. 15-Lucas, cap. 23, vv. 24 e 25-João, cap. 19, v. 16a).

Pôncio Pilatos inocentou Jesus, mas permitiu que os representantes do Sinédrio e seus seguidores executassem a pena de morte, ou seja, praticassem o homicídio contrariando a legislação romana. A conveniente omissão de Pilatos, que abandonou um inocente tendo poder de libertá-lo e de garantir-lhe a liberdade, assombraria os juristas de todos os tempos.

Depois que o Messias foi violentamente vilipendiado durante a pena de flagelação, a turba agitada em ódio o viu com a coroa de espinhos e com um manto vermelho que se misturava ao seu sangue que cobria todo o seu corpo.

Diante do sinistro simulacro de julgamento, mais uma vez os principais sacerdotes lideravam os gritos de ordem para que Jesus fosse crucificado. Até o fim desse “julgamento” Pilatos manteria a postura de declarar a inocência de Jesus, mas o abandonaria nas mãos homicidas dos perseguidores frenéticos.

A postura de Pilatos representa muito bem a diferença entre o que se fala e o que se faz o poder do verbo  se dilui ante os poderes da ação e da omissão.

O Império Romano começou o seu crepúsculo depois do julgamento de Pilatos. Ao lavar suas mãos, Pilatos inundou a história de Roma com vergonha e cinismo.

Dois foram os argumentos ardilosos dos sacerdotes e de seus seguidores nesse julgamento contrário à Justiça Romana:

I-A lei judaica como fundamento para condenação à morte aos que se consideravam o Messias esperado. Condenação confirmada pelo Sinédrio.

II – A lei romana como base para condenação à morte para quem se considerava rei. Condenação pelo Direito romano ali evocado pela lembrança do Imperador e aparente fidelidade ao seu reinado.

Ainda assim, diante desse cenário voraz, Jesus ministrou a sua última lição a Pilatos como sinal de misericórdia para que viesse despertar para realidade espiritual. Lição para toda Humanidade: Todo poder vem de Deus. O Mestre ainda nos ensinou a respeito da relatividade dos erros: “Quem me entregou a ti tem maior pecado”, ao se referir aos líderes religiosos de seu tempo.

As narrativas dos Evangelhos demonstram por um lado o esforço de Pilatos em inocentar e libertar Jesus, mas, sob outro aspecto, Pilatos é o responsável pelo ato da flagelação acompanhado de zombaria e tortura e por incitar ainda mais o ódio dos presentes com a ironia: “Hei de crucificar o vosso rei?’

O desfecho desse julgamento tétrico foi a declaração de Pilatos de que era inocente da execução de um justo, reafirmando com o ato simbólico de lavar as mãos. Pilatos repassou a responsabilidade do julgamento e consequente execução aos principais sacerdotes e, para consolidar a ação egoísta de agradar os injustos, libertou Barrabás.

O ato da flagelação já havia sido autorizado ao pensar Pilatos numa estratégia para libertar o Messias.

Os intransigentes inimigos de Jesus sabiam dos débitos morais que os assolariam em decorrência de uma injustiça e por isto disseram: “O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos”. Afirmativa que soou como mais uma pressão para Pilatos. Afinal, o que importava para eles era a morte do Messias porquanto não acreditavam que estariam em débito perante a Lei de Deus. Pensavam eles que estariam a extirpar grande mal para a sociedade judaica.

A condenação de Jesus foi expressa e tácita ao mesmo tempo. O Sinédrio condenou o Messias de forma expressa e Pilatos de maneira tácita por não querer se indispor com os líderes de Jerusalém.

O julgamento de Jesus foi o único julgamento da História da Humanidade em que o juiz declarou o acusado inocente, mas permitiu que a pena fosse executada por seus acusadores.

O simbolismo de lavar as mãos, praticado por Pilatos, representou a passividade diante da injustiça, o medo de cumprir um dever de ofício, a execução de um plano equivocado de poder temporal e a ignorância em face dos mecanismos de Justiça da Lei Natural

Ao longo dos milênios, o egoísmo de lavar as mãos diante do cumprimento de deveres morais tem assolado os mundos iguais a Terra, causando inomináveis dores físicas e morais aos seus praticantes, o que comprova que erramos mais pela indiferença aos sofrimentos do próximo do que pela ação perversa.

O julgamento de Pilatos se repete em nossas atitudes quando usamos mal o livre-arbítrio ao nos deixarmos devorar pelas preocupações da vida material sem nos atermos ao verdadeiro sentido da vida: O trabalho para a evolução e o aperfeiçoamento intelecto-moral do Espírito. Esse processo de purificação espiritual somente ocorre quando nos importamos em aliviar dores físicas e morais do próximo em sintonia perfeita com as práticas do Amor, do Perdão e da Caridade.

(Emídio Silva Falcão Brasileiro é cientista da Religião, educador, jurista, palestrante e autor de várias obras. Autor de O Livro dos Evangelhos, da Editora Boa Nova. É membro da Academia Espírita de Letras do Estado de Goiás, da Academia de Letras de Goiânia e da Academia de Letras de Aparecida de Goiânia.)

 

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