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VIGIAI E ORAI PARA QUE NÃO ENTREIS EM TENTAÇÃO

            Então Jesus chegou com eles a um lugar chamado Getsêmani, onde havia um jardim, no qual ele entrou com seus discípulos. Chegando ao lugar, disse-lhes: “Sentai-vos aqui enquanto vou ali orar. Orai também, para que não entreis em tentação”.

E, levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, Tiago e João, começou a sentir pavor, angústia e tristeza, e disse-lhes:

“Minha alma está triste até a morte. Ficai aqui e velai comigo”.

Adiantando-se um pouco, afastou-se deles cerca de um arremesso de pedra, prostrou-se com o rosto em terra, pôs-se de joelhos e orou para que, se fosse possível, passasse dele aquela hora. E disse:

“Abba! Ó Pai! Tudo te é possível! Meu Pai, se é possível, afasta de mim esse cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres. Faça-se não a minha, mas a tua vontade”.

Voltando aos discípulos, encontrou-os adormecidos pela tristeza e disse a Pedro:

“Simão, tu dormes? Então não pudeste vigiar uma hora comigo!? Por que dormis? Levantai-vos! Vigiai e orai, para que não entreis em tentação: pois o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca”.

Afastando-se de novo pela segunda vez, orou, dizendo: “Meu Pai, se não é possível passar de mim esse cálice sem que eu o beba, faça-se a tua vontade”.

E, voltando outra vez, encontrou-os dormindo, porque tinham os olhos pesados de sono, e não sabiam o que responder-lhe.

Deixando-os novamente, afastou-se e orou pela terceira vez, dizendo as mesmas palavras. E começando a agonia, orou mais intensamente.

E aconteceu que o seu suor se tornou como espessas gotas de sangue que caíam sobre a terra. Então lhe apareceu um anjo do céu que o confortava.

Levantando-se da oração, pela terceira vez voltou aos seus discípulos e lhes disse: “Dormis agora e descansais? Basta! Eis que chegou a hora e o Filho do Homem será entregue nas mãos dos pecadores. Levantai-vos! Vamos! Eis que chegou o que me entrega”. (Evangelhos de: Mateus, cap. 26, vv. 36 a 46 – Marcos, cap. 14, vv. 32 a 42 – Lucas, cap. 22, vv. 40 a 46 – João, cap. 18, v. 1 b).             

            Depois da última ceia, ao chegar ao jardim de Getsêmani, (nome que significa “lagar de azeite”), localizado no sopé do Monte das Oliveiras, o divino Rabi sentiu imensa dor moral ao ver o grave engano que os seus perseguidores cometeriam. Mesmo ao saber que tudo estava escrito e nada poderia mudar, o Mestre solicitou a Deus que intercedesse para evitar o martírio vindouro.

            Jesus, no entanto, sabia que o Pai, embora pudesse, não derrogaria Suas leis para evitar o cumprimento das profecias.

            O imenso amor do Mestre Nazareno por todos nós lhe causou profunda tristeza, chegando à sudorese de sangue, ou seja, a hematidrose. Afinal, Jesus nos acompanha a formação espiritual desde os primórdios atômicos.

            Segundo a Doutora Marislei Brasileiro, a “hematidrose provavelmente ocorre quando alta carga emocional causa rompimento de capilares localizados debaixo das glândulas sudoríparas, fazendo com que o sangue se misture ao suor, sendo um fenômeno muito raro”.

            No horto das Oliveiras, o Messias sentiu a dor moral semelhante ao que sente uma mãe ao ver seus filhos amados conspirarem contra a sua vida e nada poder fazer para evitar o matricídio.

            O Mestre conhecia a gravidade do momento. Ao chegar ao jardim de Getsêmani, ele demonstrou a necessidade de compartilhar a sua tristeza com seus discípulos. Solicitou a cada um que também orasse para suportar os sofrimentos que adviriam, mas estavam com “os olhos pesados de sono e não sabiam o que lhe responder”. Pedro, Tiago e João foram os discípulos escolhidos para acompanhá-lo até o lugar onde faria suas orações; os demais ficaram mais distanciados, em orações.

            Por três vezes Jesus solicitou vigilância aos seus discípulos Pedro, Tiago e João.

            Na primeira vez, ele recomendou: “Sentai-vos aqui enquanto vou ali orar. Orai também, para que não entreis em tentação”.

      Na segunda vez, ao encontrar os discípulos dormindo, o Mestre admoestou: “Simão, tu dormes? Então não pudeste vigiar uma hora comigo!? Por que dormis? Levantai-vos! Vigiai e orai, para que não entreis em tentação: pois o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca”.

      Nessa segunda solicitação, Jesus concedeu uma lição universal: Sem vigilância moral não há como estabelecer conexão eficaz com Deus por intermédio da oração e sem oração não é possível vencer os obstáculos evolutivos ou as tentações da vida material. A carne é fraca quando o Espírito, mesmo estando pronto, ou seja, mesmo sabendo o que fazer para seguir a consciência, não se fortalece para vencer as suas más inclinações.

      Na terceira vez, o Mestre alertou aos discípulos que se levantassem visto que chegara o momento de ser entregue aos pecadores.

            Do mesmo modo, Jesus teve três momentos em suas orações no Getsêmani, depois de conversar com seus discípulos.

            No primeiro momento, Jesus “afastou-se deles cerca de um arremesso de pedra”, aproximadamente trinta metros. O Mestre se prostrou com o rosto em terra, em sinal de profunda humildade, ajoelhou-se e rogou a Deus, a quem o chamou carinhosamente de Abba, ou seja, de “pai” ou “paizinho”, rogando-lhe que o livrasse da bebida amarga que estava prestes a tomar. Ainda assim, nos deu o sublime exemplo de respeito aos ditames divinos ao dizer: “Faça-se não a minha, mas a tua vontade”.

            No segundo momento de oração, o divino Messias disse ao Pai com resignação e humildade: “Meu Pai, se não é possível passar de mim esse cálice sem que eu o beba, faça-se a tua vontade”.

            No terceiro momento de oração, o nosso Senhor repetiu o que dissera nos dois primeiros momentos de oração, mas com maior intensidade e sentindo intensa agonia ao ponto de suar “espessas gotas de sangue que caíam sobre a terra”.

            Nessa terceira ocasião, ele foi confortado por um “anjo do céu” para amenizar o incomensurável pavor, a indescritível angústia e a infinita tristeza. Não se sabe o nome desse anjo ou espírito de elevada condição evolutiva, mas deveria ser alguém muito próximo ao Mestre, que lhe era familiar.

            Esse episódio do Mestre também nos ensina que ninguém deve se isolar diante do sofrimento. A dor deve ser compartilhada, mas não se pode esperar muito dos entes queridos porquanto o processo evolutivo é individual, solitário e intransferível. Nem sempre os entes queridos compreenderão ou sentirão as nossas dores. Duas ou mais pessoas não podem ocupar a mesma cruz.

            Jesus necessitou que um anjo viesse ao seu encontro para confortá-lo porque os seus discípulos dormiam tristes, mas ignoravam a gravidade do momento.

            Embora o Evangelho de João não relate os detalhes desse episódio, é provável que o apóstolo João tenha testemunhado o ocorrido, narrado aos demais discípulos, mas não se sentiu confortável para narrar as angústias do Cristo, seu Evangelho apenas relata: … onde havia um jardim, no qual entraram ele e seus discípulos” (João, 18:1b).

            A Natureza, o recolhimento, a companhia dos amados discípulos, a perseverança na oração sincera e, sobretudo, o amor incondicional à Humanidade, foram os recursos escolhidos por Jesus para que pudesse se fortalecer para suportar os dissabores que haveria de suportar com humildade, coragem, fé, perdão e sabedoria.

            Havia chegado à hora do Mestre ser preso e condenado injustamente depois dos artifícios de seus perseguidores.

            Até os dias de hoje, a Humanidade fere os sentimentos do Sublime Rabi por não saber perdoar e trabalhar em prol dos que sofrem. Somente cada um de nós pode afastar o cálice da iniquidade conforme a vontade de Jesus. A sudorese de sangue que cai sobre a terra é a sua piedade angelical dispensada aos amados Filhos do Homem.

            O dia do nosso Getsêmani chegará. No jardim do Monte das Oliveiras, Jesus foi confortado por um anjo. Nos dias de nossas tristezas mortais, Jesus será esse anjo confortador que nos libertará da aflição quando solicitarmos a Deus que nos afaste o cálice da bebida amarga de sofrimentos atrozes.

            O Rabi da Galileia nada tinha do que se penitenciar perante a Lei de Deus, mas sofreu por amor e por compaixão.

            Ainda somos prisioneiros dos ciclos corpóreos da evolução espiritual e também o cálice causador das tristezas do Cristo. Tomar dessa bebida amarga não é da vontade de Deus.

            Ressuscitemos Jesus em nossos corações. Retiremos o doce Rabi da cruz de nossos enganos e sejamos os seus anjos consoladores.  Jesus sofreu no horto de Getsêmani para testemunhar o seu incomensurável Amor por nós e em nome desse Amor aceitou a sagrada missão que o Pai Eterno lhe concedeu.  Pai de infinito amor, sem o qual nem existiríamos. Segundo a orientação de Jesus, Pai que nos solicita que vigiemos por intermédio da caridade e oremos por meio da fé para entramos definitivamente em Seu Reino.           

           

(Emídio Silva Falcão Brasileiro é educador, escritor e jurista. É autor da obra “Sexo, Problemas e Soluções”, pela AB Editora. É membro da Academia Espírita de Letras do Estado de Goiás, da Academia de Letras de Goiânia e da Academia Aparecidense de Letras)

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