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Escárnios contra Jesus Crucificado

Escárnios contra Jesus Crucificado

O povo permanecia lá e observava. E os que passavam o insultavam, meneando as cabeças e dizendo: “Ah! Tu que destróis o Templo e em três dias o reedificas, salva a ti mesmo! Se és Filho de Deus, desce da cruz!”

E da mesma maneira também os principais sacerdotes, com os escribas e anciãos escarneciam dele entre si, dizendo:

“Salvou os outros e não pode salvar-se a si mesmo! Se é o Rei de Israel, o Messias, que desça agora da cruz para que vejamos e creremos nele! Confiou em Deus: pois que o livre agora, se é que o ama! Porque ele disse: ‘Eu sou o Filho de Deus'”.

Também as autoridades torciam o nariz, zombavam e diziam: “Salvou a outros, salve a si mesmo, se é o Cristo de Deus, o Eleito!”

Os soldados também escarneciam dele; aproximavam-se, ofereciam-lhe vinagre e diziam: “Se tu és o Rei dos Judeus, salva a ti mesmo”.

Pois havia acima dele a inscrição: “Este é o Rei dos Judeus”.

E até um dos ladrões, que foi crucificado junto com ele, o insultava com os mesmos impropérios: “Não és tu o Cristo? Salva a ti mesmo ea nós”.

Respondendo, porém, o outro, repreendia-o, dizendo: “Nem ao menos temes a Deus, estando na mesma condenação? Quanto a nós, padecemos com justiça, porque recebemos o digno castigo das nossas obras, mas este nada fez de mal”.

E acrescentou: “Jesus, lembra-te de mim, quando estiveres no teu Reino”.

Jesus lhe respondeu: “Em verdade, eu te digo, hoje estarás comigo no Paraíso”. (Evangelhos de: Mateus, cap. 27, w. 39 a 44 – Marcos, cap. 15, w. 29 a 32 – Lucas, cap. 23, v. 35 a 43).

Depois da crucificação do corpo prossegue a crucificação moral do Cristo de Deus. A cruz moral do Messias também era composta de insultos e de improperios contra os seus ensinos, as suas curas e a sua condição realeza espiritual.

Os escarnecedores do Cristo foram as autoridades judaicas e seus seguidores, os principais sacerdotes, os escribas, os anciãos, os soldados e até um dos ladrões que foi crucificado junto com ele.

Todos queriam que Jesus fizesse uma demonstração fútil de poder, descendo da cruz de forma espetaculosa, o que contrariava as suas profecias e todos os seus ensinamentos. Tais escárnios lembram as três tentações do Cristo que instigam o orgulho, a blasfemia e a vaidade.

Naquele dia fatídico, três cruzes foram levantadas sobre o Gólgota: a cruz de um ser puro, a cruz de um pecador arrependido e a cruz de um pecador sem arrependimento. O que demonstra que a cruz sempre nos aguardará a todos, independentemente do nível de evolução espiritual no qual nos encontremos. A cruz não é sinal de evolução e sim de consumação da vontade das Leis de Deus. Ao ser crucificado, cada ser reage conforme as suas condições de inteligência e de moralidade.

Em níveis intermediários de evolução intelecto-moral, a cruz do Espírito representa a abertura e o fechamento de ciclos evolutivos até que alcance a perfeição espiritual. Em níveis superiores evolutivos, a cruz simboliza a quintessência do amor, o que foi o caso de Jesus.

As três cruzes do calvário de Jerusalém refletem, como espelhos evolutivos, o que cada Espírito produz: em Jesus, o perdão e o amor, no pecador arrependido, o senso de justiça; no pecador não arrependido a infâmia e a revolta.

Segundo o ‘Evangelho de Nicodemos’, Dimas era o nome do pecador arrependido, ou seja, do “bom ladrão”, e Gestas era o nome do pecador sem arrependimento.

Segundo ‘A Declaração de José de Arimateia’, Dimas era galileu e proprietário de uma hospedaria. Ele assaltava os ricos, mas favorecia os pobres; saqueava grupos de judeus e furtava o templo de Salomão. Gestas, por sua vez, costumava atacar os viajantes, a uns matava pela espada e a outros deixava despidos. Desde o início de sua vida, praticava atos ilícitos e violentos.

A crucificação ao lado do Cristo não representa a redenção para qualquer dos malfeitores. Não é a cruz, por si mesma, que eleva ou redime e sim o arrependimento, a resignação em face da dor e propósito de hábito conforme os ditames da consciência.

Em níveis mais avançados de evolução espiritual, a cruz representa o amor que sofre pelo bem em favor dos que não aceitam seguir as Leis de Deus.

A resposta do Mestre ao condenado arrependido corresponde a sua segunda declaração na cruz: “Em verdade, eu te digo, hoje estarás comigo no Paraíso”. Em linguagem figurada, Jesus garantiu a Dimas o auxílio por intermédio de seus mensageiros para que não sofresse as agruras das regiões umbralinas porquanto a condição consciencial do condenado facultava o auxílio socorrista.

Ainda transitamos entre as três cruzes evolutivas. Em muitos momentos da evolução espiritual não observamos as Leis do Pai e nos rebelamos contra a Sua Ordem. Noutros instantes, nos arrependemos e mudamos de comportamento e em níveis mais avançados seguimos os caminhos irresistíveis do Amor sem olhar para trás.

Jesus desceria da cruz, mas depois de cumprir a sua missão esplendorosa. Deixaria o seu sepulcro vazio, mas para encher os corações dos homens de muita fé, de elevada esperança e de sublime Amor.

Sempre haverá uma cruz para cada um de nós. Abracemos e amemos as nossas cruzes. Por meio do cumprimento do dever moral, é possível carregarmos as nossas cruzes com dignidade, amor e perseverança, até que também estejamos todos reunidos no Paraíso com Jesus.


(Emídio Brasileiro é educador, jurista e cientista da Religião, autor de 20 livros, dentre os quais Um dia em Jerusalém, da AB Editora. É membro da Academia Espírita de Letras do Estado de Goiás, da Academia de Letras de Goiânia e da Academia de Letras de Aparecida de Goiânia.)

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