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Jesus nos ensinou o amor

Jesus nos ensinou o amor
Texto de Dra. Marli publicado no DM em 17/08/2015

Quem é Jesus para o Espiritismo?
O próprio Allan Kardec define na questão 625 de O Livro dos
Espíritos: “Jesus constituiu o tipo de perfeição moral a que a
humanidade pode aspirar na Terra. Deus nos ofereceu Jesus como
o mais perfeito modelo, e a doutrina que ensinou é a expressão
mais pura de sua Lei, porque sendo Ele o mais puro de quantos
tem aparecido na Terra”. Está claro: Jesus é o Mestre maior e tudo
o que Ele fazia expressava um amor tão real e profundo que a
humanidade nunca houvera sentido.

Quando Jesus nos ensinou, em seu Maior Mandamento, Amar a
Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos,
estava nos despertando que o fundamental, em se tratando do
exercício da religiosidade, é amar. Além disso, neste ensinamento
se encontra a expressão mais completa da caridade, pois nele
resume todos os deveres do homem para com o próximo, deixando
bem claro a melhor maneira de se combater o orgulho e o
egoísmo.
Destaco dois importantíssimos ensinamentos de Jesus para nossa reflexão: em Mateus 22:23-40,
Jesus nos disse: “Ama o teu próximo como a ti mesmo”. Já no Evangelho de João, 13:34, Jesus se
expressa desta forma: “Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros como eu vos
amei”.
Então, pergunto aos leitores:
– Será que existe alguma diferença entre estes dois ensinamentos de Jesus? Ou Ele quis dizer a
mesma coisa em momentos diferentes?
Pois bem, sabemos que ninguém mais do que Jesus ensinou, semeou e exemplificou o amor. Sua
palavra era muitas vezes alegórica e em Parábolas (histórias), porém com grandes fundamentos
morais. Isto ocorria porque Ele falava de acordo com os tempos e os lugares, pois sabia que cada
coisa deveria ser entendida ao seu tempo.
Assim sendo, analisemos uma de suas Parábolas, de acordo com o nosso contexto, “A Parábola do
Semeador”. Cairbar Schutel, em seu livro “Parábolas e Ensinos de Jesus”, refere-se a ela como a
Parábola das Parábolas, na qual Jesus mostra o momento evolutivo de cada um ao receber seus
preciosos ensinamentos.
Nesta Parábola, Jesus sintetiza as características predominantes em todas as almas e, ao mesmo
tempo, reflete a boa ou má vontade que as pessoas recebem os seus ensinamentos.
Senão, vejamos:
“Saiu aquele que semeia a semear; e enquanto semeava, caiu ao longo do caminho um pouco de
semente, e os pássaros do céu vieram e comeram-na. Uma outra quantidade caiu nas pedras, onde
não havia muita terra; e logo germinou, pois a terra onde estava não era muito profunda. Mas
queimou-se com o sol, pois tinha acabado de nascer; e, como não tinha raízes, secou. Outra
igualmente caiu nos espinhos, e os espinhos cresceram e afogaram-na. Uma outra, enfim, caiu na
boa terra que dava futos, havendo grãos que rendiam cem por um, outros sessenta e outros trinta.
Que ouça aquele que tem ouvidos para ouvir” (Mateus, 13:1 a 9).
Agora vamos procurar entender, por partes, esta Parábola, que, apesar de muito conhecida, muitas
vezes não é bem compreendida.
O Semeador, todos sabemos, é Jesus. As sementes, está claro, são os seus ensinamentos, que têm
sido levados em toda a parte, desde que o homem se encontrou em condições de recebê-los.
Se a semente não germina com a mesma eficácia em todos, é devido ao momento evolutivo de cada
Espírito. Uns estão mais adiantados, outros mais atrasados; uns, propensos ao bem, à caridade, à
fraternidade, ao amor. Outros, propensos ao mal, ao egoísmo, ao orgulho.
Aqui podemos também fazer uma analogia à Lei de Amor, que se encontra no Evangelho Segundo o
Espiritismo, capítulo XI, item 8, que diz assim:
“O amor é o sentimento que acima de tudo resume, de forma completa, a doutrina de Jesus, e os
sentimentos são os instintos que se elevam de acordo com o progresso realizado. Na sua origem o
homem possui instintos; mas avançado possui sensações; mais instruído possui sentimentos. No
ponto mais delicado e evoluído dos seus sentimentos surge o amor.”
Aqui, da mesma forma, a semente só germina de acordo com a evolução espiritual de cada um. Por
exemplo, aquelas pessoas em que os instintos dominam, podem até receber os ensinamentos do
Mestre, mas ainda não os compreenderão.
E a terra, o que representa? Como já falamos, representa o estado intelectual e moral de cada um no
momento que recebe os ensinamentos de Jesus.
Assim, aquela semente que caiu à beira do caminho e os pássaros comeram refere-se aos
indiferentes, isto é, aos indivíduos imaturos, não preparados para receber tal semeadura. Seus
corações se mostram insensíveis a qualquer apelo de ordem mais elevada.
Em seguida, estão as sementes que caíram sobre as pedras, significando aqueles que até se
entusiasmam quando tomam conhecimento dos ensinamentos do Mestre, mas não encontram força
interior para vencerem o comodismo, os vícios que estejam cristalizados, sendo incapazes de
melhorar seus sentimentos. Não conseguem formar raízes.
Em terceiro lugar, estão as sementes que caíram no meio dos espinhos. Representam as pessoas que,
embora já tenham conhecimento dos ensinamentos de Jesus e os admiram, sentem-se muito presas
às coisas materiais, que consideram muito mais importantes que a formação de uma consciência
espiritual.
Esta é uma grande reflexão, especialmente para os dias atuais. O medo do futuro, a posse do ouro, a
luta pela conquista das garantias pessoais, o apego desequilibrado, sufocam, no nascedouro,
qualquer sentimento que implique em renúncia aos tesouros terrestres, fazendo-nos esquecer do
grande amor do Mestre para com todos nós. Neste caso, o fruto não amadurece.
Por último, entende-se como “terra boa” os adeptos sinceros, nos quais as lições de Jesus encontram
grande receptividade. Abraçam o ideal cristão de corpo e alma e se esforçam para coloca-lo em
prática. Embora encontrem dificuldades, essas pessoas persistem, resultando de seu trabalho
abençoados frutos.
Na prática, muitas vezes tomamos conhecimento dos ensinamentos de Jesus e queremos, a todo
custo, que nossos familiares, amigos, também se entusiasmem e compreendam como Jesus nos
dedica o seu grande amor, mas a Parábola do Semeador é bem clara: não podemos nos afligir. No
momento certo, a terra estará preparada e a semente germinará!
Aqui foi feita apenas uma pequena síntese para as nossas reflexões. Podemos retirar muitos outros
ensinamentos ao analisarmos, com detalhes, esta importantíssima Parábola, na qual se destaca a
figura do maior exemplo de amor para toda a humanidade.
Vamos analisar agora as indagações que fizemos no início. Será que existe alguma diferença entre
esses dois ensinamentos de Jesus? Primeiro: “ama o teu próximo como a ti mesmo”. Segundo: “que
vos ameis uns aos outros como eu vos amei?” Ou ele quis dizer a mesma coisa em momentos
diferentes?
No livro “Caminho, Verdade e Vida” – Francisco Cândido Xavier – Emmanuel, vamos encontrar
interessante análise sobre estes questionamentos.
No capítulo 41 intitulado Regra Áurea, ele inicia a reflexão com o “amarás a teu próximo como a ti
mesmo”, trazendo, ao mesmo tempo, uma explicação. Muitos séculos antes da vinda do Cristo já
era ensinada no mundo a regra áurea, princípio trazido por sábios de cada época, mas sem maiores
exemplificações.
Assim, os gregos diziam “Não façais ao próximo o que não desejais receber dele”. Afirmavam os
chineses “O que não desejais para vos, não façais a outrem”. É considerada sabedoria egípcia:
“Deixai passar aquele que fez aos outros o que desejava para si”. E os hebreus também
recomendavam: “O que não fizerdes para vós, não desejeis para o próximo”.
Os persas, os romanos, também faziam estas mesmas afirmativas. Porém, com o Mestre, a Regra
Áurea foi a novidade divina, porque Jesus a ensinou e exemplificou em plenitude, de trabalho,
abnegação e amor a toda a humanidade.
Vejamos, agora, a segunda orientação, que diz: “Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns
aos outros, como eu vos amei”. A leitura mais superficial nos induziria a sentir, nestas palavras de
Jesus, o mesmo sentido que o da Regra Áurea, mas, na verdade, é necessário perceber a diferença.
O “ama ao teu próximo como a ti mesmo” é diferente do “que vos ameis uns aos outros como eu
vos amei”. O primeiro institui um dever, que, para exercê-lo, não é necessário que o homem busque
compreender a condição do outro.
Porém, Jesus sabiamente enviou o Novo Mandamento à comunidade cristã, engrandecendo a
fórmula. O Mestre se refere a ela na última reunião com seus discípulos. A recomendação “que vos
ameis uns aos outros como Eu vos amei” significa a verdadeira solidariedade, a confiança fraternal
e a certeza do entendimento recíproco. A prática do amor verdadeiro de uns para com os outros.
Assim, nos lares, no trabalho, enfim, em todos os lugares, há quem ame e se sinta amado; quem faz
o bem e quem saiba agradecer. Quando Chico Xavier era solicitado a deixar uma mensagem para
reflexão, muitas vezes ele dizia: “que vos ameis uns aos outros”.
Devemos lembrar, ainda, que Jesus em seu imenso amor, recomendou-nos a amar os nossos
inimigos, esclarecendo-nos da necessidade do perdão, de conquistarmos o inimigo pelo amor e pela
prática do bem.
Assim ele nos ensina, no Evangelho Segundo o Espiritismo:
“Se o amor ao próximo é o princípio da caridade, amar aos inimigos é a sua aplicação máxima, pois
esta virtude é uma das maiores vitórias sobre o egoísmo e o orgulho. Amar aos inimigos, segundo
este ensinamento de Jesus, é não ter contra eles nem ódio, nem rancor, nem desejo de vingança. É
perdoar-lhes sem impor condições, não colocar nenhum obstáculo à reconciliação. E desejar-lhes
todo o bem possível”.
Para finalizar, devemos lembrar que estamos muito longe de compreender, com profundidade, tudo
que Jesus nos ensinou. Porém, é necessário que continuemos a estudar, refletir e, sobretudo, praticar
seus ensinamentos; ser a “boa terra” para que sua semente possa germinar e produzir bons frutos.

Marly Arruda Camargo. Espírita, médium do Grupo de Edificação Espírita (GEE), membro
correspondente da Academia Espírita de Letras do Estado de Goiás (Aceleg). Médica pediatra.
E-mail: y.arruda@terra.com.br

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