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PERDÃO, O CAMINHO PARA A FELICIDADE E O EQUILÍBRIO

“Se perdoardes aos homens as ofensas que vos fazem, também vosso Pai celestial vos perdoará os vossos pecados. Mas se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará os vossos pecados.” (Mateus, Cap. VI: v. 14-15).

Perdão, segundo a doutrina espírita, é relevar as ofensas, vem do coração, é sincero, generoso e não fere o amor próprio do ofensor. Não impõe condições humilhantes, tampouco é motivado por orgulho ou ostentação. Assim, “o verdadeiro perdão se reconhece muito mais pelos atos do que pelas palavras”, conforme nos esclarece o item 15 do Cap. X de O Evangelho Segundo o Espiritismo.

Em várias ocasiões em nossa vida, sentimo-nos ofendidos, agravados, afrontados, dependendo, é claro, do nosso grau evolutivo, emotivo e até do nosso estresse naquele momento específico, pois quanto mais evoluído for aquele a quem é direcionada a ofensa, menos ela será sentida por ele.

Outro aspecto relevante é que quando nos sentimos injuriados, nossa tendência é aumentar o fato que nos desagradou. Se fomos ofendidos por esse ou aquele motivo, encapsulamos a mágoa e cada vez que revivemos a situação que a provocou, sofremos o impacto como se o fato tivesse acontecido novamente, liberando substâncias químicas nocivas em nosso organismo, repetidas vezes.

Deste modo, mantemos a ligação mental com as forças poderosas das trevas, que somadas a outras tantas, potencializam sobremaneira a nossa ira e o desejo de vingança.

E quanto mais arraigados na certeza de que estamos sempre com razão, mais esforço será necessário para que despertemos para a real necessidade do perdão.

Surge aqui um questionamento: perdoar é esquecer?

Não. Perdoar independe de esquecer, pois possuímos a memória que registra todos os fatos, por isso quem perdoa não tem que necessariamente esquecer-se do agravo sofrido. O que é preciso, na verdade, é diluir a mágoa, a raiva ou o ressentimento que o fato gerou, ou seja, desligar-se, libertar-se, livrar-se do acontecimento, caso contrário o perdão será superficial ou até mesmo ilusório.

É importante também tentarmos entender o que ocasionou a ofensa. Muitas vezes, fomos nós os promotores dela, por algo que tenhamos dito ou feito.

Há casos e casos. O alerta ao agressor é uma conduta que, às vezes, torna-se até necessário, diante da postura descabida dele. Tal atitude não necessita assumir, no entanto, o caráter da agressão nem do revide, devendo sem dúvida ser manifestada para que o outro perceba as consequências inadequadas de seus atos, para que não volte a repeti-los.

Até porque é bom deixar claro que perdão não significa concordância com o erro. O bom senso nos demonstra que atitudes como perdoar e desculpar sem limites estimula o outro à prática do ato reprovável. Isto não é amor, mas conivência ou omissão.

Por outro lado, pesquisas modernas indicam que desenvolvemos muitas doenças, porque não conseguimos perdoar, isto é, cristalizamos nas mágoas os processos de vingança, através das ideias obsessivas, cujas causas se deslocam do campo íntimo em desarmonia, exteriorizando-se no corpo físico. Acrescentam elas que o ato de perdoar pode tranquilizar a tensão, reduzir a pressão sanguínea e diminuir a taxa de batimentos cardíacos. Perdoar, portanto, não é somente uma questão de conquista emocional e espiritual, é também uma questão de saúde, felicidade e da busca do equilíbrio.

Como um caminho a ser seguido por todos, temos a brilhante passagem em que Jesus teria dito: “Se contra vós pecou vosso irmão, ide fazer-lhe sentir a falta em particular, a sós com ele; se vos atender, tereis ganho o vosso irmão.” Aproximando-se dele, disse-lhe Pedro: “Senhor, quantas vezes perdoarei a meu irmão, quando houver pecado contra mim? Até sete vezes?” – Eis a resposta de Jesus: “Não vos digo que perdoeis até sete vezes, mas até setenta vezes sete vezes”.

Dessa forma, recebida uma ofensa dispomos na prática de duas soluções, a do Evangelho e a do mundo.

A primeira é grandiosa e nobre, verdadeiramente generosa, evitar com delicadeza ferir o amor próprio e os sentimentos do agressor, ainda que este último tenha toda a culpa.

A Sra. Mércia Aguiar, nossa mui digna Presidente do Grupo de Edificação Espírita – GEE e da Academia Espírita de Letras do Estado de Goiás – ACELEG e exemplo maior de indulgência, no livro Projetando Luz no Lar auxilia-nos a esse respeito:

Aquele que perdoa, transpõe os pórticos da espiritualidade, na morte do corpo físico, com a paz na consciência, a luz no espírito, o consolo no coração.

(…) O perdão deve ser oferecido na intimidade e no silêncio do ser, sem divulgação, apenas através do exemplo.

(…) Quem perdoa liberta o coração para as mais sublimes manifestações do amor que eleva e santifica.

A outra solução, infelizmente ainda muito usada, ocorre quando o ofendido ou aquele que assim se julga impõe ao ofensor condições humilhantes e o faz sentir todo o peso de um perdão que irrita ao invés de acalmar.

E quando este perdão deve ser exercitado? Tenho um prazo limite para fazê-lo?

O Evangelho de Jesus nos aconselha: “Reconciliai-vos, o mais depressa, com vosso adversário, enquanto estais com ele a caminho…”.

É importante, do ponto de vista de nossa tranquilidade futura, corrigirmos o mais rápido possível os erros que cada um tenha cometido contra seu próximo, perdoando aos inimigos, a fim de eliminar antes de desencarnar qualquer motivo de desavença, ódio ou rancor.

Desta maneira, de um inimigo enfurecido neste mundo, pode-se fazer um amigo no outro. Quando Jesus recomenda reconciliar-se o mais cedo possível com seu adversário não é apenas com o objetivo de eliminar as discórdias durante a atual existência e sim para evitar que elas continuem nas existências futuras.

Sendo assim, o melhor caminho a seguir é, sem sombra de dúvidas, buscar o maior exemplo de perfeição moral que Deus nos enviou: Jesus, guia e modelo para todos nós, como nos ensina a questão 625 de O Livro dos Espíritos, além de evangelizarmo-nos, buscando ser um Homem de Bem.

Transcrevemos para finalizar, queridos leitores, um alerta, principalmente para nós, espíritas, sobre o perdão, retirado do final do item 14 do Cap. X de O Evangelho Segundo o Espiritismo:

Espíritas, não vos olvideis de que, tanto em palavras como em atos, o perdão das injúrias nunca deve reduzir-se a uma expressão vazia. Se vos dizeis espíritas, sede-o de fato: esquecei o mal que vos tenham feito, e pensai apenas numa coisa: no bem que possais fazer. Aquele que entrou nesse caminho não deve afastar-se dele, nem mesmo em pensamento, pois sois responsáveis pelos vossos pensamentos, que Deus conhece. Fazei, pois, que eles sejam desprovidos de qualquer sentimento de rancor. Deus sabe o que existe no fundo do coração de cada um. Feliz aquele que pode dizer cada noite, ao dormir: Nada tenho contra o meu próximo.

Que o amado mestre Jesus possa nos conceder todos os dias a oportunidade de perdoar e de sermos perdoados.

Marcelo Arruda, espírita, palestrante do Grupo de Edificação Espírita/GEE e membro da cadeira nº22 da Academia Espírita de Letras do Estado de Goiás/ACELEG.

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