Jesus: entre a cruz e a lança
(Emídio Brasileiro é educador, jurista e cientista da Religião, autor de 20 livros, dentre os quais “O Livro dos Evangelhos” da Boa Nova. É membro da Academia Espírita de Letras do Estado de Goiás, da Academia de Letras de Goiânia e da Academia de Letras de Aparecida de Goiânia.)
Jesus: entre a cruz e a lança
Como era a Preparação, os judeus, para que no sábado não ficassem os corpos na cruz, pois era grande o dia de sábado, rogaram a Pilatos que lhes quebrassem as pernas e fossem dali retirados.
Vieram pois os soldados e quebraram as pernas do primeiro e depois do outro, que fora crucificado com ele. Chegando a Jesus e vendo-o já morto, não lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados lhe abriu o lado com uma lança e logo saiu sangue e água.
Aquele que viu dá testemunho eo seu testemunho é verdadeiro: Ele sabe que diz a verdade, para que também vós creiais. Porque isto aconteceu para que se cumprisse a Escritura: ‘Nenhum dos seus ossos será quebrado. E outra Escritura diz também: ‘Olharão para aquele que transpassaram. (Evangelho de João, cap. 19, w.31 a 37).
Somente o Evangelho de João narra esse fato. João estava muito próximo para ver um soldado abrindo o lado de Jesus com uma lança. Ao confirmar a sua narrativa, João dá testemunho solene a respeito do episódio. Mais uma vez, a quarta preocupação do Mestre em demonstrar a veracidade das Escrituras também é exemplificada por seu Discípulo Amado que demonstra a confirmação das profecias mesmo depois de sua desencarnação.
A crucificação durante o período da Páscoa não era regra e sim exceção porquanto condenados eram crucificados em diversos dias do ano. A sexta-feira que antecedia a Páscoa era considerada o Dia da Preparação e recebeu esse nome pelo fato de nesse dia serem feitos os preparativos para essa festa.
Segundo a tradição judaica, durante o sábado anterior à Páscoa não poderia permanecer corpos em cruzes e por isso solicitaram a Pilatos que quebrassem as pernas dos acusados e fossem dali retirados”. Pilatos atendeu ao pedido ao respeitar a tradição religiosa dos judeus.
Dois soldados quebraram as pernas de Dimas e de Gestas com uma barra de ferro para apressar a morte, mas isso não ocorreu com Jesus porque constataram que o Mestre já estava desencarnado. Desse modo, também se cumpriu a recomendação da Escritura que diz em Êxodo 12:46:
“Comereis numa só casa; e não levareis dessa casa nenhum pedaço de carne nem quebrareis osso algum”.
A morte na cruz pode demorar horas e ir além de 3 dias, dependendo do tipo de crucificação e das condições do sentenciado, que poderia ser amarrado, o que era comum, ou pregado numa cruz, conforme ocorreu com Jesus. A narrativa evangélica informa que Jesus levou 6 horas para desencarnar, das 9 horas às 15 horas. Ademais, segundo o costume romano, os condenados eram torturados antes da crucificação, mesmo sendo a cruz um instrumento de tortura.
Lee Strobel, em sua obra “Em defesa de Cristo”, apresenta uma entrevista que fizera ao Doutor Alexander Metherell, Ph.D., médico dos Estados Unidos especialista em medicina forense, e num trecho dessa entrevista descreve a morte pela crucificação romana:
“Uma vez que a pessoa está pendurada em posição vertical, a crucificação é, em essência, uma lenta agonia até a morte por asfixia. A razão para isso é a tensão dos músculos e do diafragma deixa o peito na posição de inalar. Para exalar, a pessoa tem de firmarse sobre os pés, para aliviar por um pouco a tensão dos músculos. Ao fazer isso, o prego rasga o pé, até se prender contra os ossos do tarso. Depois de conseguir exalar, a pessoa pode relaxar einalar novamente. Depois tem de empurrar-se novamente para cima, para exalar, esfregando suas costas esfoladas contra a madeira áspera da cruz. Isso se repete até que a exaustão total toma conta, e a pessoa não consegue mais se erguer para respirar. Ao diminuir a respiração, ela entra no que é chamado acidose respiratória: o dióxido de carbono no sangue é dissolvido em ácido carbônico, fazendo a acidez do sangue aumentar. Isso faz o coração bater de modo irregular. Quando seu coração começou a bater irregularmente, Jesus deve ter entendido que estava chegando a hora da morte, e disse: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. Depois morreu de ataque cardíaco.”
Jesus acompanhou todo o processo de sua desencarnação, respeitando as leis biológicas da Terra. Ele teve total controle para sair definitivamente de seu corpo e evitou qualquer transtorno ao sistema planetário devido à sua poderosa energia espiritual.
Não se sabe o nome do soldado que feriu o corpo do Messias com uma lança e nem o lado escolhido para isso. Todavia, é possível que tenha sido o lado esquerdo para não restar dúvidas acerca de sua morte. Esse fato cumpriu o que estar escrito em Zacarias 12:10:
“Sobre a casa de Davi e sobre os habitantes de Jerusalém derramarei um espírito de graça e de súplica, e eles olharão para mim. Quanto àquele que eles transpassaram, eles o lamentarão como se fosse a lamentação de um filho único e chorarão como se chora sobre o primogênito”.
Segundo a tradição, Longino seria o nome do soldado, porém, a palavra “longinus”, refere-se a lança que feriu Jesus, a qual mais tarde seria denominada “Lança do Destino”. A tradição ainda assevera que respingos do líquido que saíu do corpo do Mestre curou instantaneamente esse soldado de uma enfermidade ocular que sofria há muitos anos. Depois de ser curado, o soldado reconhecido abandonou o exército romano e se dedicou a divulgação dos ensinos de Jesus, dando testemunho de sua fé e sendo mártir pela causa cristã.
Ao longo da vida, muitas lanças nos ferem a existência. São lanças que retornam para quem as lançou ou lanças inevitáveis do destino para quem defende ou vivencia o Amor, a Verdade e a Justiça, conforme ocorreu com Jesus. Ademais, há destinos que construimos e destinos que o Pai constrói para nós. Independentemente da lança que nos atinge, que saiam de nós a água que simboliza a vida e o sangue que representa o amor à vida. Isso, para estabelecermos a cura para os nossos males morais e demais imperfeições que nos cercam ou nos atingem devido à cegueira da ignorância.
Que mantenhamos os ciclos da evolução do Espírito. Em Jesus, as nossas pernas evolutivas não serão quebradas e sim mantidas e cuidadas. No entanto, sem as verdades do Cristo de Deus, teremos quebrados OS OSSOS que nos possibilitam a mobilidade evolutiva, levando-nos à morte temporária do estacionamento espiritual.
Todos nós um dia estaremos entre a cruz e a lança, conforme ocorreu com o sublime Rabi. Roguemos à misericórdia do Pai que transformemos as nossas cruzes e as nossas lanças em luzes infinitas de Redenção.
+++
(Emídio Brasileiro é educador, jurista e cientista da Religião, autor de 20 livros, dentre os quais “O Livro dos Evangelhos” da Boa Nova. É membro da Academia Espírita de Letras do Estado de Goiás, da Academia de Letras de Goiânia e da Academia de Letras de Aparecida de Goiânia.)